
Minha psicanalista surtou e eu quase surtei junto. Ainda fico perplexa ao me lembrar daquela conversa ao telefone, nunca me senti tão ultrajada. É claro que já ofendi e fui ofendida, sou gente. Mas aquelas palavras doeram mais.
Foram meses, talvez anos, de psicanálise. E fiz direitinho. Falava tudo o que me vinha à cabeça, o que parece fácil para uma comunicadora. O problema é que, em um divã, tudo o que vem à mente, e à boca, é a expressão de um inconsciente revelador, muitas vezes doloroso demais. Ainda assim, sempre me senti confortável nesse processo de autoconhecimento. Era o que eu queria. Confiava e até admirava a profissional que escolhi. O que eu não poderia imaginar era que tudo acabaria aos berros. Não meus. O desequilíbrio estava do outro lado da linha.
A psicanálise não é um tratamento rápido e, muito menos, barato. E foi exatamente o dinheiro, ou a falta dele, que me fez pensar em parar. "Mas como, logo agora?". Pensei um pouco mais e decidi que fazer apenas uma sessão por semana seria a solução mais econômica. Não deu certo. Meu inconsciente já estava decidido. No dia marcado, o cansaço me fez dormir. Perdi a sessão. Minha psicanalista ligou dois dias depois e não pude atendê-la. Então, resolvi que, antes de retornar, iria pensar: continuaria, ou não, o tratamento? Na sessão seguinte teria a resposta.
Mas ela ligou antes e, desta vez, atendi. Tentei me desculpar pela ausência e explicar que estava confusa, precisava de um tempo para decidir. Foi inútil. A profissional que eu tanto admirava, especialmente pela firmeza e serenidade, estava descontrolada. "Você está em dívida comigo. Me fez esperar 45 minutos, como uma palhaça. E ainda te ligo e você não me atende".
"Eu, hein?!", pensei. "Ela está estranha, gritando". Então, mais uma vez tentei falar, sem sucesso. "Quando você precisou, eu te ajudei. Será que tudo de ruim que acontece na sua vida não é porque você usa as pessoas e joga fora?". Credo! Esse "tudo de ruim" era o que eu confiava a ela, em análise? Cadê a ética? Me assustei. Pedi para parar, já estava bastante constrangida. Ela disse que o constrangimento era recíproco. Sugeri que marcasse um horário para acertamos as contas e ela disse que a questão não era o dinheiro e, sim, a consideração.
Falemos de consideração. Por mais de uma vez a minha psicanalista me esqueceu. É isso mesmo, es-que-ceu. Uma vez tentou me convencer de que eu havia confundido a hora. Não confundi. Em outra, simplesmente reconheceu que estava com a memória fraca. E tem mais, na última sessão ela marcou duas pacientes no mesmo horário. Me dispensou em poucos minutos sob a justificativa de que eu deveria refletir em casa.
Vou refletir em casa, agora e para sempre. O surto da minha psicanalista só reforça a decisão de parar. Não admiro, não confio mais na pessoa que, ao invés de me orientar, me desorientou. E uma frase que gosto muito me vem agora à lembrança: "se exponho a você minha nudez como pessoa, não me faça sentir vergonha". O que diria Freud? O inconsciente é mesmo poderoso!